quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ás portas da morte...

…é uma mágoa muito grande.” - balbuciou ela, entre tremores de lábios, e lacrimejos que evitavam o publico por trás dos óculos escuros. “ Tudo me faz lembrar dele, uma almofada onde ele se deitou, um copo por onde bebeu, uma rua onde passámos, até estas mãos…”, chorei disfarçadamente limpando com a noz dos dedos, – “…esta mão, já teve a dele entrelaçada tanto tempo.” Todo o meu corpo, toda a minha vida é dele. Cinquenta anos são muita coisa…oh muita coisa…” – desfez-se em lágrimas sem se importar mais com quem passava na esplanada. Senti um aperto enorme no peito, tinha três noz na garganta. Mesmo que tivesse algo para dizer, nesta altura não sairia, nem uma simples vogal era capaz de articular. “ Mais vale que a morte me leve também…”
Um abraço sentido…e com ele senti aquela dor passar através dos corpos. Como compreendo o que é perder um grande amor. Ainda que não tenha setenta anos, sei que os grandes amores se percebem no primeiro instante, sei que dói tanto perde-los com um mês como com um ano. Mas cinquenta anos? Que dor incontrolável será essa? Insuportável, excessiva, mortífera…
Por outro lado, cinquenta anos com a pessoa que se ama devem estar atulhados de bons momentos, satisfação, de felicidade completa. Quem não queria ter esta história para contar?
Apesar de tudo as boas memórias são aquelas que ficam, que lembramos, como a das mãos entrelaçadas a passear por todas aquelas ruas, que agora a fazem chorar de tristeza…tristeza de recordar momentos felizes.
Mas não nos estamos a contradizer?
Para quê chorar da felicidade que teve outrora?
Ria, porque aproveitou e teve tempo para isso. Há quem não o tenha, há quem não tenha tido a oportunidade, há quem não lhe dê valor.
E isto fez-me sentir inveja, pelo menos ela teve oportunidade.
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