terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Parede de Papel

Um dia bem cedo acordei de um sonho lindo, levantei-me, e, ainda sentada na cama deitei um olhar sonolento pela parede branca mesmo aos meus pés. E pensei …que pálida, triste e cansada era aquela parede!
Logo imaginei pintá-la de mil cores suculentas e atrevidas, e outras tantas doces e ternurentas. Que bem disposta me faria acordar todos os dias! E de tanto imaginá-la todas as manhãs, e de tanto a idealizar perfeita, já não era feliz sem ela.
Então procurei por todo o lado, e corri cantos e fundos. Quando menos esperava, numa loja rasca de esquina vi um papel de parede que me deixou maravilhada.
Corri para casa a colá-lo.
Tão feliz que era todas as manhas, só de saber que ia acordar para vê-la. Os meus dias eram tão mais alegres e cheios de vida.
Mas com o tempo começou a descolar-se de uma ponta…e de outra… todas as pontas. Abriu rasgos nas extremidades, mas eu preservava-o, queria tê-lo ali para sempre, já não era nada sem toda aquela cor na minha vida.
Até que numa manha, acordada de um sonho me deparo com a minha pálida e triste parede…branca.
Já nem me lembrava de como ela era imperfeita. Na verdade ela sempre foi uma triste, fatigada e frouxa parede branca. Nunca quis ser mais que isso, Eu é que a quisera sempre uma coisa que ela não era de todo. Quis esconde-la atrás de cores e fantasias que eram fruto da minha imaginação. Na verdade a parede colorida nunca existiu, apenas um papel fraco e barato me iludia a vista.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ás portas da morte...

…é uma mágoa muito grande.” - balbuciou ela, entre tremores de lábios, e lacrimejos que evitavam o publico por trás dos óculos escuros. “ Tudo me faz lembrar dele, uma almofada onde ele se deitou, um copo por onde bebeu, uma rua onde passámos, até estas mãos…”, chorei disfarçadamente limpando com a noz dos dedos, – “…esta mão, já teve a dele entrelaçada tanto tempo.” Todo o meu corpo, toda a minha vida é dele. Cinquenta anos são muita coisa…oh muita coisa…” – desfez-se em lágrimas sem se importar mais com quem passava na esplanada. Senti um aperto enorme no peito, tinha três noz na garganta. Mesmo que tivesse algo para dizer, nesta altura não sairia, nem uma simples vogal era capaz de articular. “ Mais vale que a morte me leve também…”
Um abraço sentido…e com ele senti aquela dor passar através dos corpos. Como compreendo o que é perder um grande amor. Ainda que não tenha setenta anos, sei que os grandes amores se percebem no primeiro instante, sei que dói tanto perde-los com um mês como com um ano. Mas cinquenta anos? Que dor incontrolável será essa? Insuportável, excessiva, mortífera…
Por outro lado, cinquenta anos com a pessoa que se ama devem estar atulhados de bons momentos, satisfação, de felicidade completa. Quem não queria ter esta história para contar?
Apesar de tudo as boas memórias são aquelas que ficam, que lembramos, como a das mãos entrelaçadas a passear por todas aquelas ruas, que agora a fazem chorar de tristeza…tristeza de recordar momentos felizes.
Mas não nos estamos a contradizer?
Para quê chorar da felicidade que teve outrora?
Ria, porque aproveitou e teve tempo para isso. Há quem não o tenha, há quem não tenha tido a oportunidade, há quem não lhe dê valor.
E isto fez-me sentir inveja, pelo menos ela teve oportunidade.
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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Quando tens aquilo que queres, ainda queres aquilo que tens?



Onde foi agora toda a tua vontade de fazer alguém feliz, de amar, de ser amado?

Quantos anos esperaste por amor verdadeiro?

Quantas noites adormeceste sonhando alto com aquele amor que teimava em aparecer e te torturava com falsos sinais?

Quantas e quantas pessoas conheceste que nem te fizeram diferença…ou que não te correspondiam?

Quantas vezes desesperançaste e pensaste que não o ias encontrar nunca?

Quantas vezes te contentaste com outros sentimentos só para disfarçar o enorme buraco que tinhas no peito?

Quantas vezes achaste que tinhas muito para dar e ninguém o merecia receber?

Quanto tempo me amaste em segredo, sem sequer me conhecer?

Quantas vezes te sentiste perdido, sem rumo e desejaste um mimo, um abraço apertado um olhar que te dissesse o quanto te amo?

E agora que tens….o que esperas?

Agora que o tens porque o perdes aos poucos todos os dias?

Porque o deterioras com orgulhos, teimosia, mau feitio, falta de paciência, e desejos vãos?

Porque o menosprezas?

Porque o tens como garantido?

Não percebes que ele se vai com o vento?

E vai com mais facilidade do que veio, como um vendaval veloz e bravio, que devasta a tua vida, deixando apenas uma brisa suave, que te recorda de tudo o que tiveste um dia.

E tudo o que ficam são recordações, daquilo que já foi real, e volta a ser um sonho, intocável, inalcançável, doentio.

domingo, 25 de julho de 2010

Sou feliz...ou pelo menos pareço.

Apaguei alguns posts porque me fartei de os ler.

Cada vez que aqui venho leio-me e releio. Como se nunca me tivesse lido, como se não me conhecesse e a cada frase me descubro, me acho diferente, me apaixono, me surpreendo, me acho eu.

E levo algum tempo nisto, repenso assuntos arquivados na memoria.

Assusto-me com as reacções que me provocam algumas palavras que escrevi outrora, que já nem me parecem minhas… mas sim de alguém sofrido, alguém triste, alguém que não tem o pouco que merece.

E eu não sou esse alguém, sou bem mais alegre, mais decidida, mais feliz.

Ainda que grande parte dessa felicidade seja uma máscara para atravessar o carnaval da vida.

domingo, 30 de maio de 2010

Ser mulher tem destas coisas...6º sentido 0.o


. Eu vi o fim antes de começar e eu sabia que ela era vencida. Sabia que era um jogo perdido, onde mesmo assim ela ia insistir.

. Então ela baixou as defesas e ele apoderou-se do que é dele por eterno direito. E foram felizes, enquanto puderam. Foram amigos, amantes partilharam os seus medos, os seus objectivos.
. Mas ela beijava lentamente os seus lábios carnudos, segurava-o pelo pescoço para ele não fugir. Vezes e vezes sem conta. Apertava-o com força contra o peito. Só porque sabia que um dia seria a ultima vez que o estava a abraçar.
. Conhecia-o tão bem…Ela estava viciada nele. Passaria uma vida inteira com ele sem se perguntar porquê, sem saber se valia a pena, sem pensar em arrepender-se sequer.
. Acabou.
. Hoje se ela fechar os olhos ainda sente o beijo dele, o cheiro dele, ainda sente a pele do seu pescoço. Ainda ouve o bater do seu coração.
. E ainda seguro a sua mão na minha.
Podes perguntar porque arriscou ela se sabia que ia sair magoada.
Porque ela é uma lutadora e mesmo que caia na lama, ela levanta-se.
Porque prefere arrepender-se do que fez do que daquilo que nem tentou.

Sim ela perdeu, sofreu, chorou muito, morreu por dentro.

Mas também se riu muito, beijou, sentiu, amou, aproveitou.

Os contos de fadas nem sempre têm um final feliz...ou têm?


Minha e tua N.C.
***

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Orla do Imaginário

Entrei, sorri, segui.

Não aguento esse teu olhar.

Morri para te ver aqui

Tens pouco tempo para mudar.

.

Sentei, olhei, esperei.

Convidei-te para falar

Eu sei,

Estou prestes a queimar.

.

A tenção está a subir

Tens o mundo na tua mão

Oiço a cinza a cair

Sinto a tua respiração

.

Sei lá…

Deixei de tentar!

.

Entreabriste os lábios

Quero lutar…

.

O teu tempo está a acabar…

Olhei, estremeci

.

Ficou tarde?

Como isto dói…arde

.

Demais…

Desolei, saí.

.

Vagueei.

E acabei aqui.

Estou na orla do imaginário

Quase vejo onde mais não fui

terça-feira, 27 de abril de 2010

Quem é quem?

Talvez um dia faças jus ás palavras que deitas-te ao vento…
Aquelas…de quando eu era princesa e tu vinhas montado num cavalo pardo…
Talvez um dia me digas que me adoras… e o sintas realmente na alma, como um inspirar profundo que pesa, magoa, lacera…
Talvez…
Talvez nesse mesmo dia o mundo acabe…só para não nos ver sofrer.